sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

um justo tributo á familia pires

É, sem dúvida, gratificante conversar com amigos que, com seus antepassados, doaram anos de suas vidas a esta querida e bela terra. Entre eles, destaco a família de Antônio Pires

imbituba - Maria Aparecida Pamato Santana

Imigrante português, natural da Vila Nova de Gaia, Antônio chegou muito jovem ao Rio de Janeiro, em 1914, para trabalhar na Firma Lage & Irmãos na Ilha do Viana.
Profissional experiente e dedicado, foi transferido por Henrique Lage, em 1919, para trabalhar no Porto de Imbituba (trapiche), como conferente.
Aqui, conheceu a bela descendente de italianos, Liduina Pittigliani, com quem se casou
O casal teve seis filhos, quatro nascidos em Imbituba: Utelinda (falecida aos vinte anos), Ulisses, com noventa e três anos; Arduino, já falecido; e Renê, com oitenta e nove anos.
Anos depois, Henrique Lage precisou transferí-lo para Próspera (Criciúma), para atuar na Cooperativa. Lá nasceram seus dois últimos filhos: Vanda, já falecida; e Antônio Valter (oitenta e cinco anos, conhecido por Tói.)
Acometido de grave doença, o senhor Antônio faleceu muito jovem, aos quarenta anos. Seu filho Tói tinha apenas vinte dias.
Dona Liduína, com seis filhos, ficou sem recursos financeiros, impossibilitada de continuar morando na Próspera. Tempo em que a família de um trabalhador falecido ficava à mercê dos demais familiares. Seu boníssimo irmão, Uggero, trouxe-a com os filhos, de trem, para Imbituba. Deu a eles casa e alimentação por muitos anos. Dona Liduína, costureira, passou a fazer camisas sociais para as famílias Catão, Secco e outras. Ulisses e Renê começaram a trabalhar na “Casa Glória”, de Manoel Florentino Machado (Neco). Era uma verdadeira loja de departamentos, com tecidos, sapatos, chapéus, joias, louças, peças decorativas, ferramentas... Ao lado, ficava o bar, um posto de combustível e agência de ônibus. Arduino trabalhou no Cine Ideal, localizado num dos armazéns, próximo ao Porto. “Eu também trabalhei no Cine durante a segunda guerra mundial. Íamos pela Rua de Baixo no escuro; era proibida a iluminação pública e também nas casas, cujos donos precisavam usar panos pretos nas janelas para não deixar passar a claridade do interior. Eram ordens do Comandante do Exército, Capitão Baltazar. Foram anos muito difíceis para a população. Bom, porém, para as moças que casaram com soldados no final da guerra (1945). Alguns deles deram baixa, casaram e ficaram morando aqui, como o Michalaki, Adriano Dalbosco e José Petrassem.”
Antônio Valter e seus irmãos, à princípio, estudaram na primeira escola “isolada”; ficava abaixo da capelinha da praia. Depois, foi  transferida para a casa da Estrada de Ferro; por último funcionou na casa que hoje pertence a Margarita (sobrinha do Dr. Rinza). Nesse chalé, morou, mais tarde, a família de Sávio Secco, Gerente da Docas.
Em 1935, inaugurado o Grupo Escolar Henrique Lage, Tói e os irmãos passaram a estudar nele, onde se formaram no Curso Complementar, o mais alto grau de ensino em Imbituba.
Tói foi admitido na Companhia Docas, como funcionário da Seccão de Pessoal, em primeiro de agosto de 1944. Segundo ele, apesar de pouco estudo, conseguiu dominar bem o trabalho, depois da chegada das leis trabalhistas que passaram a dar direitos aos trabalhadores. Tudo era compilado na ficha individual do trabalhador: salário, produtividade, adicional por tempo de serviço, aposentadoria.
Até as despesas na cooperativa, no clube, nos jogos de futebol, eram anotadas. Os registros nas fichas eram manuais; não havia máquinas de escrever. Essas fichas eram impressas na tipografia da Docas. Seus três irmãos também foram funcionários da empresa. Renê ocupou a importante função de “Caixa” até se aposentar.
Disse Tói que, até os vinte e cinco anos, pensou em ficar solteirão. Não sabe se por Deus, teve a sorte de ir às quarenta novenas da Quaresma na capelinha. No vai e vem das pessoas, avistou uma moça que lhe tocou o coração; chamava-se Clara. Com o passar dos dias, percebeu que era correspondido. Namorou, noivou, e casou com a sua amada em 26 de maio de 1951.
Clara Nogueira era filha de Augusto Nogueira, primeiro e ótimo sapateiro daqui. Era, também, um exímio músico da orquestra “Jazz Band Imbituba”; e, de outras bandas que surgiram.
Tói e Clara tiveram quatro filhos: Reinaldo, Rita de Cássia, Romilson e Robson. Tói orgulha-se dos cinco netos (Renato,Roberta, Rodrigo, Antônio Valter neto e Talita) e do bisneto Eduardo.
Emocionado comentou: “aconteceu uma tragédia na minha vida: Clara faleceu em dezoito de fevereiro de 2004. Hoje, vivo solitário, com saudade daqueles tempos felizes. Clara me tratava a “pão- de- ló” (expressão comum, usada para expressar o grau de carinho).
Tói e os demais integrantes da Seção de Pessoal fundaram a Banda “ Gualberto Pereira”, da qual foi presidente por vinte anos.
Antônio Valter Pires tem muitas histórias para contar. Ficaram para uma oportunidade bem próxima.
A homenagem desta coluna é à família Pires, pelo exemplo de horandez e profissionalismo, respeito a Deus e ao próximo, herdados de Antônio e Liduina; esta, que venceu todas as vicissitudes da vida, com dignidade, até os seus 101 anos.

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